quinta-feira, 4 de março de 2010

Poema para Galileo

(...)Eu queria agradecer-te, Galileo, 
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,  
e quantos milhões de homens como eu 
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate Galileo!
 
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça 
sem a menor hesitação - 
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são. 
Pois não é evidente, Galileo?
 
Quem acredita que um penedo caia 
com a mesma rapidez que um botão de camisa 
ou que um seixo na praia? 
Esta era a inteligência que Deus nos deu. 

(...)Por isso estoicamente, mansamente, 
resistente a todas as torturas, 
a todas as angústias, a todos os contratempos
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, 
foram caindo, 

caindo,
 
caindo,
caindo, 

caindo sempre,

e sempre, 

ininterruptamente, 

na razão directa dos quadrados dos tempos.


António Gedeão

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