Vazamento de petróleo no mar |
As ações de preservação ambiental passaram a contar, recentemente, com uma importante ferramenta de apoio: a matemática. Um exemplo da aplicação da ciência nessa área é o modelo matemático desenvolvido para a tese de doutorado de Rosane Ferreira de Oliveira, defendida em 2 de junho de 2003, junto ao IMECC – Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp.
Por meio de equações, a autora analisou o comportamento de manchas de petróleo e seus derivados no mar. O recurso permite fazer um prognóstico apurado da trajetória das substâncias químicas, favorecendo a adoção de medidas que possam evitar, por exemplo, que elas atinjam uma área rica em biodiversidade.
De acordo com Rosane, o modelo matemático não é uma expressão exata da realidade, mas é capaz de pintar um cenário que possibilite compreendê-la. Entre as variáveis consideradas na equação estão a velocidade do vento, o tipo do óleo e as condições das marés e das correntes marítimas. Feitos os cálculos, a autora antecipa qual será a tendência do comportamento da mancha. “O objetivo da ferramenta não é dizer que a mancha vai chegar num determinado local numa dada hora, mas sim indicar para onde ela estará se dirigindo. É um recurso mais qualitativo do que quantitativo”, explica.
A expectativa de Rosane é que o modelo matemático seja utilizado pelos setores operacionais das empresas que atuam na área petrolífera e pelos organismos responsáveis pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. A legislação brasileira, segundo ela, já exige que esse tipo de ferramenta seja empregado por agências como a Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. O problema é que, por ser uma técnica nova, elas ainda não têm pessoal qualificado para analisar se uma modelagem pode mesmo oferecer as respostas que promete.
Para elaborar sua tese, Rosane valeu-se principalmente de notícias publicadas pela mídia. Ao tomar conhecimento de um acidente envolvendo vazamento de petróleo e seus derivados no mar, ela buscava junto a várias fontes os dados para montar a equação. Depois, simulava o comportamento das manchas no computador. O cenário virtual, conforme a autora, sempre se manteve próximo do real. “Quando o jornal dizia que a mancha havia avançado dois quilômetros numa determinada direção, o ensaio indicava uma situação similar”, afirma.
Um exemplo de como o modelo matemático pode evitar que o vazamento de petróleo no mar ocasione um desastre ambiental vem de um episódio ocorrido em 2000, na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. À época, a Petrobras, causadora do acidente, afirmava que a mancha de óleo não atingiria uma reserva ambiental próxima. Passados alguns dias, aconteceu o que a empresa assegurava que não ocorreria. “Os ensaios que fiz em computador indicavam que a mancha estava, sim, se dirigindo para a reserva. Se a empresa dispusesse da ferramenta, o pior poderia ter sido evitado, pois ela teria tempo para colocar bóias de contenção para segregar o poluente”, relata Rosane.
Conforme a autora da tese, a tendência é que pesquisas como a sua sejam uniformizadas, de modo que gerem um “pacote computacional” para ser usado em planos de contingências. “A idéia é que, em pouco tempo, nós já tenhamos softwares que ofereçam soluções online”.
Manuel Alves Filho, do Jornal da Unicamp
Referência:
Revista: Newsletter, 4 de julho de 2003.
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