Muito se tem discutido sobre a educação no Brasil. O atrelamento de 10% do PIB do País à educação é, sem dúvida, uma necessidade de médio e longo prazo. No curto prazo, sentimos uma grande necessidade de mão de obra especializada, em particular, engenheiros, físicos, químicos, matemáticos, etc. Devemos salientar, no entanto, que, nessas profissões, não basta o sujeito dispor de um diploma universitário. Ele deve ser um bom profissional, com capacidade de projeto e de modelagem de problemas reais, capaz de abordar situações novas e produzir inovações tecnológicas.
Profissionais com este perfil são raros hoje em dia, sendo formados em número aquém das necessidades por algumas poucas escolas de qualidade. Como professor universitário de engenharia, tenho me deparado com um quadro desalentador, em vista do nível de conhecimento de matemática de meus alunos, tanto de graduação quanto de pós-graduação. Infelizmente, isto não ocorre apenas em nossa escola. Tendo sido professor de outra universidade federal, da qual me aposentei, já vinha observando este fato a pelo menos duas décadas. Sem um conhecimento razoável de matemática, é impossível se formar um profissional qualificado em engenharia ou em ciências exatas.
O Anuário Brasileiro da Educação Básica-2012 mostra que, em 2009, apenas 11% dos alunos mostraram a proficiência esperada em matemática ao chegar ao 3º ano do ensino médio. Isto significa que, de cada 100 alunos, 89 não possuem qualificação adequada em matemática. Este índice é deplorável para um país que pretende continuar a se desenvolver científica e tecnologicamente. Este é um problema crucial que precisa ser resolvido rapidamente.
Alguns colegas meus, professores de matemática, vêm ministrando, durante o verão, cursos de extensão, dirigidos a professores do ensino fundamental e médio, em um esforço de melhorar a qualidade destes mestres, que irão lidar com as novas gerações de estudantes. Entretanto, o alcance destes cursos, mesmo sendo ministrado por muitas outras escolas, é muito restrito, devido ao número reduzido de pessoas que podem ser atendidas. Considerando-se ainda o processo de seleção, necessário devido à procura, provavelmente, os professores atendidos são, talvez, aqueles que menos precisam da reciclagem.
Acredito que precisamos reformular completamente a forma de encararmos o ensino e a aprendizagem de matemática desde a primeira série do ensino fundamental até a última série do ensino médio. Embora isto seja crítico para quem irá fazer graduação em engenharia ou em ciências exatas, certamente seria bem vindo para quem se dirige para outras áreas do conhecimento também. No entanto, não há tempo para treinarmos adequadamente todos os professores necessários para esta tarefa, nem mesmo através de ensino a distância. Além disto, os professores do ensino básico se queixam, sistematicamente, da sobrecarga de aulas, que os impede de preparar bem o material a ser ministrado, o que se reflete em cursos deficientes, mal ministrados e, consequentemente, na má formação, quase generalizada, dos estudantes, conforme observado no Anuário Brasileiro. Em muitos casos, chega-se ao ponto do desestímulo, levando o aluno a acreditar que é impossível para ele aprender matemática.
Diante deste cenário, o que fazer?
Proponho que padronizemos os conceitos a serem ministrados aos alunos, definindo sua sequência de apresentação e aliviemos o professor do ensino básico da tarefa de preparação de suas aulas de matemática. Este material seria preparado, com a supervisão do MEC, e disponibilizado, aula por aula, aos professores através de um site da internet, recurso disponível em praticamente todas as escolas do País. Caberia aos professores apenas a tarefa de reproduzi-los em sala de aula para seus alunos, dentro da sequência previamente determinada. Com os conhecimentos que possuem, os professores não teriam dificuldades em apreender o conteúdo das aulas para tirar dúvidas dos alunos e resolver exercícios que, também, seriam fornecidos junto com seus gabaritos. Pode-se considerar que os professores estariam passando por um "treinamento no trabalho" e ministrando cursos de melhor qualidade.
Profissionais com este perfil são raros hoje em dia, sendo formados em número aquém das necessidades por algumas poucas escolas de qualidade. Como professor universitário de engenharia, tenho me deparado com um quadro desalentador, em vista do nível de conhecimento de matemática de meus alunos, tanto de graduação quanto de pós-graduação. Infelizmente, isto não ocorre apenas em nossa escola. Tendo sido professor de outra universidade federal, da qual me aposentei, já vinha observando este fato a pelo menos duas décadas. Sem um conhecimento razoável de matemática, é impossível se formar um profissional qualificado em engenharia ou em ciências exatas.
O Anuário Brasileiro da Educação Básica-2012 mostra que, em 2009, apenas 11% dos alunos mostraram a proficiência esperada em matemática ao chegar ao 3º ano do ensino médio. Isto significa que, de cada 100 alunos, 89 não possuem qualificação adequada em matemática. Este índice é deplorável para um país que pretende continuar a se desenvolver científica e tecnologicamente. Este é um problema crucial que precisa ser resolvido rapidamente.
Alguns colegas meus, professores de matemática, vêm ministrando, durante o verão, cursos de extensão, dirigidos a professores do ensino fundamental e médio, em um esforço de melhorar a qualidade destes mestres, que irão lidar com as novas gerações de estudantes. Entretanto, o alcance destes cursos, mesmo sendo ministrado por muitas outras escolas, é muito restrito, devido ao número reduzido de pessoas que podem ser atendidas. Considerando-se ainda o processo de seleção, necessário devido à procura, provavelmente, os professores atendidos são, talvez, aqueles que menos precisam da reciclagem.
Acredito que precisamos reformular completamente a forma de encararmos o ensino e a aprendizagem de matemática desde a primeira série do ensino fundamental até a última série do ensino médio. Embora isto seja crítico para quem irá fazer graduação em engenharia ou em ciências exatas, certamente seria bem vindo para quem se dirige para outras áreas do conhecimento também. No entanto, não há tempo para treinarmos adequadamente todos os professores necessários para esta tarefa, nem mesmo através de ensino a distância. Além disto, os professores do ensino básico se queixam, sistematicamente, da sobrecarga de aulas, que os impede de preparar bem o material a ser ministrado, o que se reflete em cursos deficientes, mal ministrados e, consequentemente, na má formação, quase generalizada, dos estudantes, conforme observado no Anuário Brasileiro. Em muitos casos, chega-se ao ponto do desestímulo, levando o aluno a acreditar que é impossível para ele aprender matemática.
Diante deste cenário, o que fazer?
Proponho que padronizemos os conceitos a serem ministrados aos alunos, definindo sua sequência de apresentação e aliviemos o professor do ensino básico da tarefa de preparação de suas aulas de matemática. Este material seria preparado, com a supervisão do MEC, e disponibilizado, aula por aula, aos professores através de um site da internet, recurso disponível em praticamente todas as escolas do País. Caberia aos professores apenas a tarefa de reproduzi-los em sala de aula para seus alunos, dentro da sequência previamente determinada. Com os conhecimentos que possuem, os professores não teriam dificuldades em apreender o conteúdo das aulas para tirar dúvidas dos alunos e resolver exercícios que, também, seriam fornecidos junto com seus gabaritos. Pode-se considerar que os professores estariam passando por um "treinamento no trabalho" e ministrando cursos de melhor qualidade.
A segunda parte da proposta consiste na forma como este material poderia ser produzido. Neste caso, o MEC poderia verificar quais escolas, públicas ou privadas, estão tendo melhor resultado na preparação de seus alunos em matemática e contatar os professores responsáveis pelo sucesso. Estes professores seriam contratados para esta tarefa e poderiam ter suas aulas gravadas e ter seu material didático reproduzido. Deve-se compreender que não se trata de um curso a distância.
Este material terá o propósito de servir de gabarito e orientação aos professores da rede, fornecendo argumentação e explicações sobre os tópicos a serem ministrados e a forma como a aula deverá ser conduzida. Em suma, o professor irá reproduzir em sala, aula por aula, aquilo que for fornecido, podendo complementar com novas explicações ou exercícios adicionais, que se adaptem à realidade do local da escola, porém sem alterar ou reduzir o conteúdo programático da disciplina. O tempo, que o professor irá ganhar com este alívio de tarefas, poderia ser utilizado para orientações individuais dos estudantes com menores aptidões.
Obviamente, o sucesso de um programa desta natureza passa por um bom sistema de controle, o que poderia ser realizado por inspetores de ensino, vinculados às Secretarias Estaduais de Educação ou ao MEC.
Obviamente, o sucesso de um programa desta natureza passa por um bom sistema de controle, o que poderia ser realizado por inspetores de ensino, vinculados às Secretarias Estaduais de Educação ou ao MEC.
Observe
que os conhecimentos básicos de matemática não envolvem questões
filosóficas ou de interpretação, que poderiam dar margem a um debate
sobre a autonomia do docente sobre a forma ou conteúdo a serem
ministrados. A realidade é que, atualmente, o ensino não está dando
certo e o resultado final está sendo ruim. Assim, não consigo ver
resistência a um ensino tutelado de matemática em nossas escolas
básicas, particularmente, utilizando uma metodologia que alivia o
docente de parte de sua carga de trabalho.
Referências:
Pedro Carajilescov é professor titular da Universidade Federal do ABC (UFABC). Artigo enviado ao JC Email pelo autor. A
equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões
expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não
refletem necessariamente a opinião do jornal.
Referências:
Imagens: Autores desconhecidos
Montagem: Matheusmáthica
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