Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passeando entre estrelas
Fazendo o que estava escrito:
Caminhando eternamente
De infinito a infinito.
Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar
Falar e tomar café.
Mas farta de andar sozinha
Uma delas, certo dia
Virou-se para a outra linha
Sorriu e disse-lhe assim:
"Deixa lá a geometria
e anda aqui p'ro pé de mim..."
Uma delas, certo dia
Virou-se para a outra linha
Sorriu e disse-lhe assim:
"Deixa lá a geometria
e anda aqui p'ro pé de mim..."
Diz a outra: "Nem pensar!
Mas que falta de respeito.
Se quisermos lá chegar
Temos que ir devagarinho
andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!"
Não se dando por achada
Fica na sua a primeira
e, sorrindo, amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha e matreira
Puxa a si o Infinito.
Fica na sua a primeira
e, sorrindo, amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha e matreira
Puxa a si o Infinito.
E com ele ali à frente
As duas a murmurar
Olhando-se docemente.
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar.
Seguiram as duas juntas.
Assim, nestas poucas linhas
Fica uma história banal
E com linhas e estrelinhas
Uma moral convergente:
O Infinito, afinal,
Fica aqui ao pé da gente!
Fica uma história banal
E com linhas e estrelinhas
Uma moral convergente:
O Infinito, afinal,
Fica aqui ao pé da gente!
José Fanha
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