sexta-feira, 26 de julho de 2013

Educação Matemática: Visão histórica



Durante a Antiguidade Clássica, o homem para registrar suas ações de contar, medir, se deslocar e fazer a leitura do seu universo físico, usando a sua intuição, criou a Matemática.  A partir do século IV a.C, com “Os Elementos” de Euclides, tornou-se uma ciência dedutiva.  Na Era Medieval, esses conhecimentos foram esquecidos: todo o saber estava contido nas Sagradas Escrituras.

Com a invenção da imprensa de Gutenberg, a Reforma Protestante e o florescimento das artes e da ciência no século XV, deu-se a primeira grande ruptura histórica: o RENASCIMENTO, marcando o começo da Era Moderna.  As grandes navegações, com a descoberta do Novo Mundo e a introdução da ciência experimental por Galileu e Bacon, determinaram avanços técnico-científicos e, também, uma transformação geopolítica do mundo ocidental.  O século XVIII foi cenário da segunda ruptura histórica que deu origem ao movimento conhecido como Iluminismo.  A independência dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa marcaram essa ruptura.  Na Era Moderna, com o fim do feudalismo e ascensão da burguesia foi levantada a bandeira: EDUCAÇÃO PARA TODOS.  O ensino da Matemática passou a ter status de disciplina obrigatória, desde o fim do século XVIII até o fim do século XIX e começo do XX, sem haver mudança curricular.  A Sociedade burguesa entrava na ERA INDUSTRIAL.  Com problemas tecnológicos, engajando um número cada vez maior de pessoas surgia a classe operária.  Uma mudança curricular da Matemática era necessária, levando Felix Klein e Howard Fehr a propor no Congresso de Matemáticos (Roma, 1908) a Primeira Reforma Internacional do Ensino da Matemática.  A ação de Euclides Roxo e outros professores do Colégio Pedro II repercutiu no Brasil.

Os avanços científicos e tecnológicos, antes e durante a segunda grande guerra, motivaram profundas mudanças na sociedade de após-guerra que determinaram, sob a liderança do matemático e educador Caleb Gattegno, a criação, em 1953, do CIEAME (Comissão Internacional de Estudos e Aperfeiçoamento de Educação Matemática), presidida por Choquet, matemático francês.

Nos anos anteriores, haviam sido organizados quatro seminários, onde foram discutidos por matemáticos educadores, filósofos e psicólogos, em trabalhos em grupo, experiências e pesquisas por renomados pesquisadores e simples professores de sala de aula.  Nesses seminários, foi discutido o isomorfismo entre Estruturalismo Matemático do grupo Bourbaki e o da Psicologia Genética, liderados por Dieudonné e Piaget, respectivamente.

Em 1959, a OECE precursora da ODCE (Organização de Cooperação para Desenvolvimento Econômico) reuniu 600 professores de 20 países em Royamont, França para discutir esse isomorfismo, sendo lançada a Reforma do Ensino da Matemática, conhecida como da Matemática Moderna.  Por outro lado, a partir de 1960, o ICMI se desvinculou do ICM e passou a realizar, de quatro em quatro anos, o ICME (Congresso Internacional de Educação Matemática), consagrando um novo campo de estudo e pesquisa a EDUCAÇÃO MATEMÁTICA.

A UNESCO, preocupado com a reforma da Matemática Moderna, organizou um Seminário Internacional de Educadores Matemáticos, em Lyon (França, 1974). Os encontros deveriam ser feitos por regiões; foi realizado em Montevideo (1974) o seminário: “As aplicações do Ensino e Aprendizagem da Matemática na Escola Secundária”, sendo criado o CIAEM (Comitê Inter Americano de Educação Matemática) filiado ao ICMI e presidido por M. Stone.

O movimento da Matemática Moderna foi um campo fértil para inovadores.  Zoltán Dienes e Georges Papy foram e tiveram grande influência entre nós.  Dienes no grupo GEMPA do Rio Grande do Sul sob liderança de Esther Grossi e GEEM em São Paulo com Oswaldo Sangiorgi.  No Rio de Janeiro, Arago Bachx, ex-bolsista de Papy, fundou o GEMEG (Grupo de Educação Matemática do Estado da Guanabara) de curta vida pela falta de apoio e a oposição dos matemáticos e professores conservadores.  A ideia, no entanto, persistiu.  Alguns professores, entre eles, Anna Averbuch, com a minha volta depois do estágio no IREM (Instituto de Pesquisa em Ensino da Matemática) de Estrasburgo, França, em 1975, resolveram agrupar colegas da Matemática, Psicologia e Pedagogia.  Devido à minha experiência no IREM e disponibilidade como aposentada, resolvemos dar prosseguimento ao GEMEG e fundar o  GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática).

Em assembleia geral, 24 de fevereiro de 1976, com a presença de 39 professores, foram aprovados os estatutos e eleita a diretoria do GEPEM, como consta do número 1 do Boletim, que continua sendo publicado por esses 37 anos e referência da CAPES em pesquisa em Educação Matemática.

A década de 1970 foi de grande efervescência nacional e internacional em Educação Matemática.  Além do GEPEM, outros grupos e programas foram criados, merecendo destaque o da UNESP/Rio Claro.  Internacionalmente, passaram a ser questionados os exageros da reforma da Matemática Moderna, culminando no ICME de Karlsbruch, 1976, onde surgiu o movimento “back to basic” e criado o PME (Psicologia da Educação Matemática), grupo cada vez mais ativo com reuniões anuais.

Em 1980, fui reintegrada ao Instituto de Matemática da UFRJ, onde os professores Lucia Tinoco e Radiwal Alves Pereira já desenvolviam trabalho de formação de alunos da licenciatura, possibilitando a formação de um grupo maior de professores para, em 1982, apresentar o Projeto de Formação de Professores de 1º, 2º e 3º grau para atender o edital do MEC/SESU “Integração da Universidade com o ensino do 1º grau” e, posteriormente, ao Programa da CAPES “Melhoria do Ensino de Ciências e Matemática”, origem do SPEC (Subprograma Educação para a Ciência)  do PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento científico e tecnológico) o bem sucedido “Projeto Fundão – Desafio para a Universidade” que completa 30 anos.

Com o desenvolvimento dos programas e grupos existentes, e a criação de muitos outros, era imprescindível a existência de uma associação de âmbito nacional.  Havia unanimidade dos componentes dos principais grupos existentes sobre a criação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática.  A professora Tânia Campos, chefe do Departamento de Matemática da PUC/SP, conseguiu que aquela Universidade sediasse um Congresso Nacional de Educação Matemática para discutir e aceitar os princípios desta Sociedade.  Procurou os grupos do Rio que não somente concordaram com a ideia, como também, aceitaram o desafio de redigir a proposta.  Assim, foi na minha casa que, juntamente com João Bosco Pitombeira e Roberto Baldino redigimos a proposta que, aceita pelos órgãos financiadores, permitiu o Primeiro Encontro de Educação Matemática, em 1987, na PUC/SP.

O primeiro ENEM (Encontro Nacional de Educação Matemática) teve o êxito esperado.  A proposta do professor da Universidade de Maringá, PR, para sediar o segundo ENEM foi aceita.  Durante o segundo ENEM, a preparação da Assembleia Geral para a criação da SBEM e eleição por aclamação da primeira diretoria foi bastante tumultuada; havia muita divergência entre os componentes dos vários grupos de Educação Matemática existente.  Teve, entretanto, um final feliz.  A SBEM foi criada no dia 27 de janeiro de 1988 e eleita a diretoria, encabeçada pelos professores Nilza Bertoni e Cristiano Muniz, aos quais os educadores matemáticos são devedores de agradecimento por terem conseguido estruturar a SBEM, com os membros da diretoria dispersos por esse Brasil.

Para terminar estas notas sobre “Fatos históricos determinantes da evolução da Educação Matemática”, deixo para meditar esta frase de Octavio Ianni:

“...nos fins do século XX e começo do século XXI nós estamos metidos numa grande ruptura histórica.”

Na passagem da Era Medieval para a Era Moderna deu-se a primeira grande ruptura histórica: O RENASCIMENTO.

Estamos vivendo outra grande ruptura da passagem da Era Industrial para a Era Digital que denomino Outro RENASCIMENTO pelas semelhanças entre as determinantes de ambos.

A atuação da SBEM, nessa fase da evolução da Educação Matemática será um fator decisivo como foram as Comissões, Comitês e Sociedades para a evolução da Educação Matemática que procurei citar.

Autora: Maria Laura
Montagem: Matheusmáthica

Referência:

Carta de Maria Laura Mouzinho a comunidade de educadores matemáticos: sua última produção em vida.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Questão 178 da prova azul do segundo dia do Enem 2020

(Enem 2020) Suponha que uma equipe de corrida de automóveis disponha de cinco tipos de pneu (I, II, III, IV, V), em que o fator de eficiênc...